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Nem riquezas, nem aplausos: A glória de Deus na vida de Paulo

  • Foto do escritor: Claudio Schueler
    Claudio Schueler
  • 11 de abr.
  • 4 min de leitura

Quando a fraqueza se torna força: a glória de Deus segundo Paulo.

Enquanto muitos associam a glória de Deus ao sucesso, à prosperidade e ao reconhecimento público, o apóstolo Paulo nos convida a enxergar por outra lente — uma lente embaçada pelo sofrimento, mas cristalina na fé. Neste artigo, refletimos sobre como a vida de Paulo desafia as expectativas humanas e nos aponta para uma glória que não se mede por aplausos, mas pela fidelidade no meio da dor.


📸 Imagem ilustrativa criada por inteligência artificial (ChatGPT + DALL·E).
📸 Imagem ilustrativa criada por inteligência artificial (ChatGPT + DALL·E).

Segundo a teologia da prosperidade, glorificamos a Deus por meio do sucesso em nossos empreendimentos, da ostentação de riquezas supostamente adquiridas pela fé ou ainda pelo reconhecimento profissional, acadêmico ou eclesiástico.

No entanto, a vida e os ensinamentos do apóstolo Paulo nos apontam para outra direção — uma vereda menos intuitiva, onde o sofrimento, e não o êxito, é o que revela a verdadeira glória de Deus.

Em I Coríntios 10.31, ele declara: “Portanto, se vocês comem, ou bebem, ou fazem qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.”

Mas o que exatamente Paulo quer dizer com “glória de Deus”? E como essa glória se manifesta em sua própria vida?

A resposta está tanto em suas cartas quanto em sua biografia nos Atos dos Apóstolos — e ela nos surpreende. Em contraste com o que geralmente entendemos por glória — e até com o que o Antigo Testamento apresenta como “a glória do Senhor” —, Paulo revela uma perspectiva invertida.

No Antigo Testamento, a glória de Deus é a “glória de Iahveh” que enche toda a terra (Nm. 14.21 e Hb 2.14) e está associada à majestade e ao esplendor: manifestou-se maravilhosa no Sinai (Ex. 24: 16), com poder no Templo de Salomão (2 Cr. 5: 13) ou na visão arrebatadora de Isaías no momento de sua chamada (Is. 6: 1 a 5).

No contexto do Império Romano, glória era sinônimo de triunfo. Era o brilho dos imperadores em desfiles repletos de louros, símbolo de força e conquista.

Paulo, contudo, rompe com essa lógica ao afirmar que não se gloria senão na cruz de Cristo. Ele não buscava parecer bem-sucedido aos olhos humanos, nem ambicionava aplausos, holofotes ou reconhecimento. Sua prioridade era permanecer fiel. Combater o bom combate. Guardar a fé — mesmo (ou sobretudo) nas piores circunstâncias.

Em II Coríntios 11, Paulo diz com ironia:

“Outra vez digo: ninguém pense que estou louco. Mas, se vocês pensam que sim, recebam-me como um louco, para que também eu me glorie por um instante” (v. 1).

E segue, não com títulos ou conquistas, mas com uma lista que nos escandaliza justamente por inverter o conceito de glória:

“...em trabalhos, muito mais; em prisões, muito mais; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.

Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um.

Três vezes fui açoitado com varas.

Uma vez fui apedrejado.

Três vezes naufraguei.

Fiquei uma noite e um dia boiando em alto-mar.

Em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, de assaltantes, entre patrícios e gentios, na cidade, no deserto, no mar, entre falsos irmãos;

em trabalhos e fadigas, em vigílias, em fome e sede, em jejuns, em frio e nudez.

Além das coisas exteriores, pesa sobre mim diariamente a preocupação com todas as igrejas.

Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça?

Quem se escandaliza, que eu não me indigne?” (vv. 23-29)

E conclui, com uma declaração devastadora para o que se entende por glória:

“Se tenho de me gloriar, vou me gloriar no que diz respeito à minha fraqueza.”

No capítulo seguinte, ele se aprofunda ainda mais nesse paradoxo:

“Sinto prazer nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte” (II Coríntios 12.10).

Suas prisões se tornaram púlpitos — testemunhos vivos diante da guarda pretoriana (Filipenses 1.13) e dos magistrados que o interrogaram. Um deles chegou a dizer que quase se tornara cristão (At. 26.28).

Mas o que há de glorioso em ser levado como prisioneiro de uma autoridade à outra, em ser acusado como criminoso e, ainda assim, exultar:

“Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13)?

Mesmo que essas “todas as coisas” incluam passar fome, ter sede, sofrer privações e não apenas viver em abundância?

Paulo glorificava a Deus com sua própria vida. Com sua entrega. Com sua capacidade de estar contente em qualquer situação — nos dias bons e maus, na abundância ou na escassez, sob o afeto ou sob a perseguição.

Nunca buscou recompensas terrenas. Sua cidadania era celeste. E ele demonstrou isso, não com palavras, mas com sua história.

Jó teve seus bens restituídos em dobro (Jó 42:10). Israel foi restaurado após o juízo da praga (Jl. 2.25).

Mas Paulo não pleiteava os bens do Senhor “na terra dos viventes”. Para ele, os verdadeiros bens eram as almas alcançadas. Não ouro ou prata — mas vidas transformadas.

Após anos de dedicação, louvando a Deus até mesmo na penumbra de um cárcere, ele pôde enfim declarar:

“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.”

E nós?

Estaríamos dispostos a glorificar a Deus nas mesmas circunstâncias?

 
 
 

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